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MÉTODOS DE PROPAGAÇÃO

As técnicas apresentadas aqui, com poucas exceções, são as utilizadas em jardinagem, com algumas modificações no intuito de se obter árvores miniaturizadas.
Antigamente, as mini árvores eram coletadas diretamente na natureza (YAMADORI).
Os bonsais mais antigos, foram coletados na natureza, já como árvores - miniaturas. E estes estão entre os mais magníficos no Japão e no mundo.
Com a mudança do meio ambiente pelo homem, destruição de habitats, tornou-se praticamente impossível conseguir uma mini árvore na natureza. As poucas que ainda existem, encontram-se em locais que ainda se preservam da presença humana. Devido a este motivo, quando as árvores passaram a ser manipuladas e trabalhadas, o Yamadori passou à coleta do Araki, ou seja qualquer árvore ou arbusto que pudesse servir como matéria prima para se tornar um bonsai.
Se estivermos dispostos a coletar um Araki, devemos lembrar que em determinados ambientes teremos maiores chances de se conseguir um bom exemplar, do que em outros.
No interior de uma mata, encontraremos árvores longilíneas, de tronco muito fino e comprido, com copa pequena e em formação, pois estão crescendo à procura de claridade e luz. esta competição faz as árvores adotarem este estilo. Em campos e pastagens que são submetidos a queimadas, raramente encontraremos algo que sirva para se obter um bonsai de qualidade. Talvez nos cerrados, secos, com solos pobres e empedrados, tenhamos alguma chance.
Os locais ideais seriam as escarpas e penhascos rochosos. Uma árvore para ali se instalar, terá que se adaptar a um solo praticamente impenetrável, ventos agressivos. Com isto, esta árvore levará muitos e muitos anos para se desenvolver.
Porém, não precisamos nos arriscar em locais ingrimes e de difícil acesso para obtermos um belo exemplar.
Devemos considerar a possibilidade de encontrarmos uma muda em um bosque ou jardim, que na extensão, fazem parte da natureza.
Um bom exemplar de araki deve ser de uma espécie resistente, saudável, tamanho diminuto e forma compacta, tronco grosso e envelhecido, boa distribuição de galhos, copa densa e aspecto geral harmoniosa.
Folhagens não servem como matéria prima para bonsai. A coleta das mudas deve ser feita com moderação, cuidados e bom senso. Não devemos remover várias árvores do seu meio ambiente. No máximo uma ou duas, e as transportar nas melhores condições possíveis. Em vários locais é proibida a remoção de árvores. Em propriedades particulares, devemos ter a autorização para tal prática.
Ao encontrarmos a árvore desejada, devemos analisar sua estrutura e forma. Galhos desarmoniosos, grandes demais ou indesejados, deverão ser podados antes mesmo da coleta da árvore. Sua folhagem deverá ser podada em pelo menos 20%, pois suas raízes serão também podadas. Além de que um menor número de folhas evita a desidratação em demasia.
Devemos limpar a área ao redor da árvore, eliminando qualquer mato, observar se não existem parasitas, formigas, besouros,etc. O torrão deverá ser de 5 a 6 vezes mais largo que a base do tronco, nos casos dos que possuem 3 ou mais centímetros de diâmetro. A profundidade deverá ser maior do que o futuro torrão que será acondicionado.
Raízes muito grossas poderão ser eliminadas com uma tesoura potente ou mesmo um serrote se possível, com um corte em diagonal.
Deve-se evitar a incidência de raios solares sobre a árvore. As raízes deverão ser acondicionadas em sacos, e se estiver muito calor, devemos borrifar água em toda a árvore. Aconselha-se manter o veículo de transporte sempre perto, para evitar o excessivo cansaço e para que a árvore chegue o mais rápido a seu destino, trabalhada e replantada.
Durante aproximadamente um mês, devemos proteger a árvore de raios solares e ventos intensos. Ela deverá ser regada com frequência assim como suas folhas borrifadas. Porém evite o excesso de água, pois as raízes estarão passando por um processo de cicatrização e terão nesse período dificuldade de obtenção de oxigênio.
Em aproximadamente 24 dias aproximadamente novos brotos começarão a surgir, indicando que a "pega" da planta está se concretizando. Após 120 dias, devemos iniciar a adubação dela, e com seis meses poderá sofrer aramação cuidadosa.
Pequenas podas de folhas poderão ser realizadas.
O segundo replantio deverá ser feito após um ano, onde as correções que se fizerem necessárias ocorrerão, incluindo as raízes.
Dois anos após, a arvore receberá uma nova poda drástica, quando devemos diminuir bastante o tamanho da árvore e suas raízes. Só então poderá ser considerada um jovem bonsai. Ou seja, se a árvore que coletamos tiver aproximadamente 35 anos, estaremos diante de um jovem senhor bonsai de 39 anos.
Nas cidades, por incrível que possa parecer, encontramos excelentes materias primas, em jardins ou casas em demolição. Em especial buxinhos deverão ser pesquisados, pois sempre apresentam crescimento lento e normalmente são bastante compactos.

Obtenção de um bonsai por semente (MISHO):
Por ser um processo extremamente lento, vem aos poucos sendo excluído das publicações. Embora seja a forma mais lenta de se obter um bonsai, não deve ser deixada de lado. Muitos cultivadores comerciais utilizam-se deste método para a obtenção de mudas.
A grande vantagem desta técnica, é que trabalhamos a planta desde cedo e em espécies de crescimento rápido, podemos orientar sua forma a partir de um ano e meio a dois.
Nesta técnica devemos utilizar sementes de árvores pequenas e no máximo, médias. Determinadas frutíferas deverão também ser evitadas, pois demorarão 12, 14, 16 anos para iniciar a frutificação.
As técnicas de semeadura seguem os princípios de jardinagem.

Cultivo por estacas (SASHIKI):
Técnica que também segua as regras de jardinagem em geral. É um método mais rápido do que o MISHO, e que fornece material genético idêntico ao de sua origem. Nesta técnica, conseguimos mudas com troncos encorpados, próximos ao desejado, porém de início menos vigoroso do que as mudas originadas por semente.
Existem três tipos de estacas:
As basais possuem caule rígido, lenhoso, com espessura maior que 1,5 cm e comprimento aproximado de 25 cm.
As intermediárias, são gravetos mais finos que as estacas basais, apresentam algum aspecto de lenho e são semi-rígicas, com espessura de 3 a 8 mm.
As estacas de ponteiro, na realidade não são estacas. São feitas com a ponta do tronco ou ramo da árvore-mãe. São bastante finas, flexíveis, verdes e muito sensíveis. Desidratam-se com facilidade, sendo difíceis de se propagarem.
O plantio de uma estaca, não apresenta nenhuma novidade. Todas as folhas da parte do caule que for ser enterrada deverão ser removidas. Enterra-se aproximadamente 1/3 do comprimento total da estaca. Folhas da parte aérea deverão ser podadas ao máximo para se evitar a desidratação. A perda de água é uma das principais causas da perda da estaca, assim como no Araki.


Da esquerda para direita: as 2 primeiras são intermediárias; as duas do meio são as de ponteiro e a última a direita, a basal.

A parte inferior da estaca que será enterrada, deverá ter seu corte em diagonal. Se o tronco for muito espesso, cortamos em duas diagonais, em formato de ponta de flecha.
As estacas, antes de plantadas, deverão ficar de molho em uma solução de vitamina B1 (tiamina), pois isto estimula a formação de raízes nos cortes diagonais. A dosagem já descrita, deverá de ser de 1 comprimido para cada 750 ml de água.
Após isso, a estava deverá ficar confinada em saco plástico de polietileno ou vasos plásticos com drenagem, assim como no caso dos saquinhos de polietileno. Deverão ser deixadas abrigadas de sol e vento, e as mudas deverão permanecer intocadas por um ano.


Alporquia:
É considerada a menina dos olhos dos que desejam um bonsai em curto espaço de tempo. Por ser de grande resultado e fácil realização, comumente nos veremos analisando galhos e ramos de árvores, imaginando a realização da técnica e obtenção da muda.
A alporquia é a solução para as espécies que não se reproduzem por estacas, embora algumas poucas espécies realmente não se reproduzem por este método. É uma técnica milenar embora relativamente mais atual no Ocidente. Consiste de criarmos uma planta com raiz presa à árvore mãe. Sua restrição é que deveremos ter uma grande quantidade de matrizes se desejarmos a produção em grandes quantidades.
A alporquia apresenta uma série de vantagens, como multiplicar espécies raras, ou que não se reproduz por estacas; obter bonsais com troncos relativamente espessos; forma o bonsai de forma mais rápida do que as outras técnicas; facilita a formação bonsais no estilo troncos múltiplos e florestas; formar um bonsai no estilo raiz exposta; obter um bonsai de um exemplar de excelentes características, porém com galhos muitos longos,etc.
Outra grande vantagem da alporquia, é que enquanto está ocorrendo a formação das raízes, podemos trabalhar, podar e orientar, enquanto estiver ligado à árvore matriz.
Para fazer a alporquia, não necessitamos de muita técnica e conhecimento. Primeiramente, determinamos onde desejamos a formação das raízes. Com um canivete bem afiado, demarcamos um espaço de aproximadamente 5 a 10 cm, com incisões demarcantes, que circundarão toda a circunferência do galho escolhido. Após ter a área delimitada, descascamos a área entre as incisões demarcantes. Após ter sido descascado, envolvemos a área trabalhada com uma generosa quantidade de esfagno (musgo) encharcado com solução enraizadora de vitamina B1 (tiamina).
Toda essa massa é recoberto por plástico por plástico transparente, que será amarrado nas duas extremidades. Esta área não deve receber luz solar intensa ou por muitas horas. Se isto ocorrer, devemos recobrir a região comum pano ou tecido escuro. O esfagno deverá estar constantemente molhado até se obter a quantidade desejada de raízes. Daí a colocação do plástico transparente!
O tecido deverá ser preso de maneira a poder ser removido facilmente, para observarmos a umidade do esfagno. A parte superior do plástico deverá ser facilmente acessada para poder recolocar a solução de vitamina B1. Outra opção é utilizarmos seringa com agulha para perfurar o plástico e inocular a solução vitamínica.
Após a obtenção de um volume desejado de raízes, cortamos abaixo das raízes o galho, e assim teremos uma muda completa com raízes, troncos e parte aérea.
Uma variação de alporquia pode ser realizada quando desejamos obter um bonsai com raízes expostas. 
A técnica é igual à descrita, porém com a diferença de adaptarmos um vaso plástico ao redor do tronco, logo abaixo da área descascada. O vaso será recortado de forma a se fazer um orifício na sua base e que fique bem adaptado ao redor do tronco. Dentro do vaso será também colocado esfagno molhado com a solução enraizadora, e todo o conjunto será embrulhado com plástico, da mesma maneira descrita acima. Os cuidados serão os mesmos. Com isto, as raízes formadas se espalharão por sobre a superfície do vaso, ficando mais abertas, diferentemente da forma adquirida na forma convencional.


Esfagno












Alporquia com vasos. Não existe a necessidade de vasos tão altos. Os plásticos de bonsai são suficientes.

Enxertia:
Embora até pouco tempo atrás, os bonsais enxertados não eram vistos com bons olhos pelos mais puristas, a enxertia fornece uma série de benefícios à arte de se buscar variações de beleza em árvores miniaturas.
Mudas enxertadas florescerão e frutificarão em pequeno espaço de tempo, quando comparado com outros métodos de obtenção de plantas; flores de cores variadas são obtidas por mistura de espécies; permite o cultivo de plantas que não se desenvolvem bem com suas próprias raízes; permite a obtenção de galhos em partes do bonsai onde o tronco está limpo e não emite ramificações.
A razão que tornava o bonsai desvalorizado pela enxertia, era estética. entretanto a exigência de mercado pelo consumo e algumas vantagens de reprodução de algumas espécies, fez esse conceito ser reavaliado. A alporquia também se tornou aliada para encobrir as cicatrizes e calos das regiões onde se fazem os enxertos, com a produção de raízes que encobrem e disfarçam essas marcas.
As incisões em enxertia são facilmente conseguidas com uma lâmina afiada onde cuidadosamente descascamos parte do tronco onde será realizado o enxerto juntamente com pequena porção  do lenho, sem a remoção ou quebra da casca.  A peça a ser enxertada tem sua extremidade cortada em V, que será colocada dentro do corte do tronco com as partes vivas voltadas para a parte viva do tronco. Uma variação da técnica da incisão do tronco, é em forma de T, conforme demonstra a imagem.
A enxertia é especialmente útil na produção das coníferas, que estão entre as mais utilizadas plantas no cultivo de bonsais. Como exemplo, podemos citar o pinheiro branco japonês, que está entre as cinco espécies mais clássicas, torna-se muito mais vigoroso, quando enxertado no pinheiro negro e com estética mais bela, uma vez que o tronco do pinheiro negro é muito mais belo do que seu parente que o utiliza como base de enxerto.
No nosso país, sua utilização se limita a árvores frutíferas, como a jabuticabeira, que começa e produzir em menor tempo do que a jabuticabeira não enxertada. 
Com finalidade estética, podemos realizar o auto-enxerto ou seja, retira-se um galho de uma parte da árvore e o enxerta numa parte da mesma árvore que se mostra deficiente.






Formas de incisões em enxertadas.




Propagação através do broto ladrão (rebentões):
Algumas espécies de árvores ao atingir a maturidade, costumam liberar brotos a partir de suas raízes.
Na arte bonsai esses brotos não costumam ter boa aceitação, por comprometer a estética da árvore, além de sugar parte da nutrição desta.
Na realidade, o broto ladrão é uma forma de perpetuação da planta que ao envelhecer, libera uma nova muda que se transformará em uma jovem árvore.
A coleta de um rebentão faz parte do princípio do Yamadori, pois se tratará de uma coleta em uma determinada natureza, e consiste em uma técnica de separação das raízes.
Os rebentões são excelente forma de obtenção de um bonsai, pois origina-se de uma árvore matriz já miniaturizada que se encaixa no padrão bonsai. Portanto, carrega em sua genética toda uma história .
A coleta do broto ladrão, requer alguns cuidados próprios. É necessário que seja removido com uma parte radicular própria, sem que se comprometa a estética do Nebari (sistema radicular) de sua árvore mãe. Outro dilema enfrentado, é quando devemos retirar o broto. se muito cedo, poderá não fingar. Se muito tarde, poderá sofrer para se adaptar. O broto a ser retirado, poderá sofrer ajustes e podas enquanto conectado à árvore mãe.




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